CTN repudia falas de vereador a respeito do povo nordestino

Político afirmou que produtores não devem contratar “aquela gente lá de cima” e que baianos “vivem tocando tambor”
O Centro de Tradições Nordestinas (CTN), localizado no bairro do Limão, em São Paulo, repudia veementemente as falas do vereador Sandro Fantinel (Patriota) a respeito do povo baiano. O político, ao se pronunciar sobre as denúncias que envolvem o resgate de mais de 200 trabalhadores que foram submetidos a condições análogas à escravidão em vinícolas da serra gaúcha, afirmou na tribuna da Câmara Municipal de Caxias do Sul (RS), que produtores e agricultores da região “não contratem mais aquela gente lá de cima”, ao se referir aos funcionários vindos do Nordeste, mais especificamente da Bahia.
“A única cultura que eles [baianos] têm é viver na praia tocando tambor, era normal que se fosse ter esse tipo de problema. Que isso sirva de lição. Deixem de lado aquele povo que é acostumado com Carnaval e festa para vocês não se incomodarem novamente”, afirmou. Ainda, o político questionou se as empresas terão que “colocar eles [trabalhadores] em um hotel cinco estrelas para não ter problema com o Ministério do Trabalho” e sugeriu que as vinícolas prefiram empregados argentinos que são, segundo ele, “limpos, trabalhadores e corretos”. As falas foram apontadas como xenofóbicas.
Em 2023, o CTN completa 32 anos de existência. Desde a sua fundação, enfrentou a xenofobia de frente. Em setembro de 1992, um grupo de skinheads invadiu, durante a madrugada, o Centro de Tradições Nordestinas. Além da invasão, picharam uma frase criminosa dirigida à comunidade nordestina. Através de palavras escritas com tinta vermelha, eles disseram: “morte aos nordestinos”. Os criminosos ainda desenharam uma suástica nazista na parede do espaço.
Após a situação, José de Abreu, fundador do CTN, interviu junto à imprensa e ao poder público pela investigação do crime. Por meio da política, o visionário homem colaborou para a criação da primeira delegacia contra crimes raciais do Brasil.
“Zé de Abreu, meu pai, foi um homem de bom coração que lutou com muita garra e amor em prol do povo nordestino. Criou a Rádio Atual e o CTN e fez com que muitas famílias nordestinas pudessem reencontrar seus familiares em São Paulo”, conta Christiane Abreu, Presidente do CTN. “Foi um absurdo o que fizeram com o CTN em 1992 e, novamente, agora em 2023, temos que lidar com esse tipo de situação, que nunca deveria ter existido”, completa. “O povo nordestino construiu o nosso Estado e, mesmo se não tivesse, é merecedor do mesmo respeito, seja em São Paulo, no Rio Grande do Sul ou em qualquer outro local.”
Com a mesma garra e determinação de seu fundador, o CTN prossegue na busca por justiça, igualdade e respeito. Ao vereador que proferiu as falas criminosas, o CTN solicita imediata investigação das autoridades e punições efetivas que condenem um dos piores crimes que existem na sociedade: a xenofobia.
O CTN, como um verdadeiro espaço de diversidade, se posiciona veementemente contra qualquer preconceito, como LGBTfobia, racismo e machismo.
“Seja menos preconceito, seja mais amor no peito
Seja amor, seja muito amor
E se mesmo assim for difícil ser, não precisa ser perfeito
Se não der pra ser amor, seja pelo menos respeito.”
Braúlio Bessa
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